“Procurei por toda parte, tentando achar a sabedoria e a razão das coisas acontecerem, tentando provar a tolice da maldade, a loucura dessa vida tola.” Eclesiastes 7:25
Ando meio desconfiado. Os passarinhos cantam já sem encanto. E lá perto de casa tem um galo que canta o dia inteiro, como se quisesse acordar alguém que dorme de olhos abertos. Mal sabe ele que para despertar desse tipo de sono é necessário um grito dentro da alma, imenso, desses que não tem som. Um incômodo que tire as coisas do rumo para só então perceber que já não há rumo há uma eternidade. E por falar em eternidade, já não se sabe mais há quanto tempo o mundo vive às portas do desespero.
Ando meio assustado. Ninguém faz idéia de quem vive às portas do desespero. E isso é tão natural! Afinal, a natureza exata do desespero é não se saber nele, apenas sentir um vazio que hipocritamente é chamado vazio, pois é sempre uma imensa falta. Falta de algo que não se sabe o nome. Será que ainda sabemos nossos nomes?
Ando meio cansado. Sem nome, sem rumo, sem saber o tamanho ou a existência do desespero. O diabo está nos detalhes, e já não temos tempo para detalhes. Eles passam pelos cantos dos olhos, estimulando a mente, levando a conclusões precipitadas, precipitando medos peito abaixo, subtraindo vida e isso cansa profundamente. O amor se tornou uma frase dita levianamente, a beleza não passa de uma foto digital percorrida com o dedo dentre tantas outras, e o valor… ah, o valor! Esse se tornou relativo ou mesmo invertido, como se vivêssemos do outro lado de um espelho cinzento e deformado, nossa própria imagem e semelhança completamente modificada em nome de… em nome de quê?
Ando meio assim, no meio dos espinhos, os passarinhos já não vejo e o céu se fechou completamente. Não há nada de errado comigo, só não consigo perceber onde todo mundo se perdeu, ou onde perdi todo mundo. Vejo alguns que também enxergam o mesmo que eu, mas seria isso um consolo? Por que trocamos palavras vãs na tentativa de nos sentirmos melhor? Ou melhores que o resto do mundo perdido? Ou seríamos nós que estamos perdidos e o mundo deveria ser visto com mais bondade, se é que isso existe?
Ando meio pensativo, e pensamentos como esse, que liga o nada a lugar nenhum, mas me entregam, tolo que sou de colocar isso público, tentam desmentir o sorriso blasé e toda a minha conversa fiada de aceitar e tolerar e considerar tão comum toda essa loucura! São pensamentos assim que drenam, com esforço, lágrimas da alma que nunca chora, e chora por sentimentos vãos, mói pensamentos vãos e solta palavras vãs, ao vento, como se alguém fosse ouvir ou como se fizesse alguma diferença. Naufrago num oceano vão, sem querer me apegar aos destroços do navio da minha consciência castigada pelas ondas dos meus atos vãos.
E os peixes já não nadam em cardumes, cada um deles deve salvar sua própria vida. Mas continuam chamando a si mesmos civilização.